Bastinhas e o Grupo de Coruche foram a Alma do 17 de Agosto

Coruche é uma terra de história, arte, tradição e fé! Venera e festeja Nossa Senhora do Castelo por estes dias de Agosto enchendo-se a Vila de gentes vindas de toda a parte para evocar a tradição religiosa. Na parte pagã largadas de toiros, a tourada à corda, provas de condução de cabrestos e boi da guia, picaria à vara larga e, claro, sendo a grande corrida de toiros do 17 de Agosto um dos pontos altos desta Festa.

O céu de Coruche no passado dia 17 estava coberto com um manto azul e o sol reinava alto para aquecer o suficiente; O ideal para desfrutar de uma tarde de toiros sem ventos, ondas de calor ou calafrios o público aderiu de certo modo… preenchendo cerca dois terços da lotação… Um cartel interessante, competitivo, o grupo da terra como é tradição em solitário, este ano desafiando seis impressionantes toiros da ganadaria Silva… só pelos retratos e vídeos de promoção secavam a boca a qualquer um… e três cavaleiros que tem dado cartas pelas arenas quem têm pisado esta temporada. Moura Jr, Marcos Bastinhas e Francisco Palha.

 

Pela porta dos sustos saíram seis toiros de apresentação muito respeitável, generosos de corpo e cornamenta, mas um tanto ou quanto vazios de alma. Exceção feita aos dois primeiros… Os maiores e de mais cara, eram verdadeiramente impressionantes esses dois toiros, tinham massa corporal abundante (650 kg e 640 kg) e mais lenha na cabeça que o forno de uma padaria. Os restantes também com um trapio acima da média eram mesmo assim mais comuns. Mas também mais vazios de alma!

O negro listão e chorreado que abriu praça é dos toiros mais impressionates que tenho visto na minha vida, havia toiro por todos os lados, galopou, foi pronto e conseguiu mover o seu esqueleto até ao fim da sua lide. Bom toiro. O segundo também ele impressionante, luzia uma bonita cornamenta acachapada, também foi um bom toiro que dava pelo nome de “Falso” mas não o foi. O colorado que saiu em terceiro lugar ao pé dos irmãos saídos anteriormente parecia pequeno… mas também era um senhor toiro em termos de apresentação, quanto ao comportamento foi possivelmente o mais vazio de alma dos seis… nunca rompeu e foi-se reservando durante a sua lide. O quarto, o mais cômodo de cara do lote e o menos em tipo dos seis, foi um toiro complicado, no momento do ferro umas vezes frenava a acometida, outras vezes faltava, acabando por nunca romper. O quinto muito forte do quarto dianteiro e em tipo da casa, teve coisas positivas e outras menos, foi encastado mas faltou-lhe entrega. O sexto outro toiro muito pesado, 615 kg, veio de mais a menos acabando por se reservar nos terrenos de dentro.

 

João Moura jr, que voltava a Coruche depois de o ter visto anteriormente em duas actuações que terão marcado na sua vida como toureiro. Uma a 17 de Agosto de 2015 onde alcançou um triunfo memorável e a outra em 2019 onde perdeu um dos seus melhores cavalos de toureio o Xeque-Mate. O João brindou aos céus… Na sua primeira lide, impôs autoridade do início ao fim, uma lide sincera e emotiva. Dois compridos a abrir, cravados com acerto e vendo o que o “Dominante” assim se chamava o impressionante Silva tinha para dar, esteve bem o João a lidar. Nos curtos a lide foi boa, cravou com decisão ferros de boa nota de praça a praça com ligeira batida ao piton contrário, rematando de forma toureira as sortes. Na preparação dos ferros houve inteligência escolhendo com acerto os terrenos do oponente, rematou a sua actuação com um grande palmito.

No quarto da corrida bonito foi o início da sua lide, a receber o toiro com bonitos recortes. Cravou dois bons compridos e partiu para os curtos. Bem a lidar e tentando limar os defeitos a um toiro que não era de todo claro… este “Ciclone” por vezes fazia o papel de desentendido sendo reservado no momento do ferro, o cavaleiro de Monforte deu-lhe a volta com sabedoria. Lide de início mais de sovar e muito oficio. Cravou com solvência os ferros, reconhecendo o conclave o esforço feito. Já com o toiro mais entregue um ferro em terrenos de dentro, uma mourina ajustada e um palmo foram o remate de uma lide de muito querer e reconhecida pelos presentes.

 

Marcos Bastinhas dá-lhe igual tourear em Coruche, Lisboa ou Loures… Bastinhas onde vai é para marcar pontos, triunfar e não deixar ninguém indiferente, uns gostam mais outros menos mas o que é certo é que o público se levanta dos assentos para o aclamar. Bastinhas é sem dúvida um dos triunfadores desta temporada. Coruche foi também testemunha do momento que o cavaleiro de Elvas atravessa e foi ele que levou o triunfo da tarde para casa.

No segundo da corrida, recebeu o toiro na porta dos curros para o tentar interessar lodo de início na montada, mas o toiro saiu a ver as vista… O cavaleiro foi por ele e lá o conseguiu embeber no cavalo. Dois bons compridos a abrir e o com o toiro a carregar depois do ferro tiveram emoção. Por falar em emoção o que foi aquele primeiro curto?! Sensacional meus caros! Ao piton contrário, de alto abaixo no centro da arena foi cravado o ferro da tarde, música a tocar e burburinho nas bancadas. Mais uns quantos se seguiram não tão emocionantes mas com valor, bem a rematar as sortes e com o público no bolso.

No quinto novamente o cavaleiro de Elvas soube aproveitar o oponente de cabo a rabo… Limou defeitos e destacou as virtudes do “Emigrado”. Correcto nos compridos, lidou com inteligência, levando sempre o toiro ligado ao cavalo para o interessar, já que este tinha uma ligeira tendência a ficar em certos sítios da praça. Nos curtos a lide foi a mais, muito mais acabando com o público de pé… Cravou três curtos de boa nota, mudou de montada e acordou um público que estava meio letárgico… Um violino, um palmo e um par de bandarilhas no centro da arena foram o rastilho que o conclave necessitava para se levantar dos seus lugares e aplaudir com entusiasmo os visto.

 

Francisco Palha é um toureiro “encastado”! Que não deixa ninguém indiferente, leva dentro dele a “loucura dos gênios”, a sua maneira de tourear não é pautada pela rotina e quando as coisas encarrilham faz desfrutar com o seu toureio o mais incomum dos mortais. Quando isso não acontece deixa- nos com um “mau sabor de boca”. Em Coruche no 17 de Agosto as coisas infelizmente não correram nos carril certo…Ou por culpa dos toiros, dos cavalos ou mesmo por culpa do cavaleiro.

O primeiro do seu lote, dava pelo nome de “lupo”, toiro a transmitir muito pouco as bancadas, as suas acometidas eram sonsas e as forças parcas. Palha andou bem nos compridos, lidou com acerto e nos curtos só três, os dois primeiros foram de boa nota, havendo bonitos ladeios com a montada tentando levar o toiro embebido, a cuidar ao máximo do colorado, lide demorada. Mais um curto e a actuação acabou por ali… o director deu um aviso a informar que já tinham decorrido 10 minutos e o cavaleiro resolveu terminar a sua actuação.

No sexto a lide foi intermitente… Bem nos compridos e nos dois primeiros curtos. Havendo bonitos momentos de toureio a lidar e preparar as sortes. Trocou de montada e a coisa veio a menos o toiro estava remisso em acometer as montadas mesmo nas curtas distâncias e algumas passagens em falso arrefeceram uma lide que parecia que iria ser das boas. Trocou novamente de montada para cravar um violino e uma palmo, o ferro que leva o nome de instrumento teimou em não ficar cravado e Palha acabou por deixar dois palmitos a adornar o morrilho do “Grisalho”.

De muita Fé se faz a Festa! E num grupo de forcados não é só a dos Santos, Cristo e Nossa Senhora é também a que se tem que ter nos amigos que fazem parte do grupo. Um grupo de amigos com uma paixão em comum, o gosto de pegar toiros… Mais uma vez no 17 de Agosto o grupo de Coruche foi a tradição, dedicação e a bravura!

Nesta tarde na praça de toiros da capital do Sorraia houve beleza, sentimento, saudade, e emoção no pôr o barrete, no citar, no enfrentar, no pegar e no fazer das cortesias de muitas das velhas glórias deste grupo.

Homem e toiro sem mais… Corajosamente forcados… nalgumas das pegas desta tarde houve a arte plena do bem pegar toiros, noutras a valentia e o ir buscar forças ao infinito para dominar as brutas acometidas dos oponentes.

Abriu a tarde José Macedo Tomás, cabo do grupo. Cita, templa, recebe à córnea, para se fechar de braços e de pernas numa pega perfeita. Bem o grupo a ajudar e o João Prates a rabejar.

António Macedo Tomás noutra boa pega à primeira tentativa, esteve bonito a citar, suportou um par de derrotes violentos, fechando-se à córnea também. O grupo esteve superior nas ajudas.

João Mesquita à segunda tentativa, toiro a meter a cara por cima e a não obedecer ao ao forcado, atropelando mais que investindo. Na segunda o João conseguiu que o toiro lhe obedecesse mais qualquer coisa, grande primeira ajuda e a pega foi consumada.

David Canejo à quarta tentativa, o toiro no momento da reunião fazia um estranho, ou seja frenava a investida, decompondo o forcado da cara no momento de reunir. Na quarta tentativa a pega foi consumada com ajudas mais carregadas, mas com uma viagem loga do forcado na cara do toiro, já que este fugiu ao grupo para a sua querença de toda a lide…

Bernardo Cortez numa boa pega à primeira tentativa, num toiro que entrou bruto e por cima, dificultando a vida ao forcado mas este com raça debelou as dificuldades impostas, pegando à córnea, um toiro que exigiu grupo cá atrás e houve. Bem as segundas e terceiras.

Fechou a tarde o grande João Prates! Três tentativas duras, num toiro que guardou tudo para a pega. Derrotes violentos, duros e a fazer antever o pior… Mas estava lá o João, que com a raça e valentia que lhe são características deu por vencido este Silva que não lhe facilitou a vida.

Uma palavra para o primeiro ajuda Fernando Ferreira que esteve soberbo toda a tarde. Para Paulo Pinto numa grande ajuda no segundo da tarde e para João Prates que esteve como disse superior a pegar mas também a rabejar.

Os Campinos Janica e Café recolheram a cavalo os toiros desta tarde.

Dirigiu a corrida Marco Cardoso, sendo o médico veterinário José Luís Cruz.

 

Foto destaque: foto ilustrativa

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