As broncas duram 10 minutos

A crónica da quinta corrida de toiros do Abono de 2018 na Praça do Campo Pequeno, em Lisboa, da autoria de Bernardo Patinhas.

 

Praça de Touros do Campo Pequeno, 05.07.2018

Cavaleiro João Telles Jr.

Matadores:

Morante de la Puebla

José María Manzanares

Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca

Cabo: Pedro Coelho dos Reis

Ganadarias: Ribeiro Telles (1.º e 4.º para cavalo), Paulo Caetano (2.º, 3.º, 5.º, 6.º e sobrero, para pé)

Praça Cheia

Direção: Sr. Manuel Gama

 

As broncas duram dez minutos e as cornadas dez dias, dizia-o o Homenageado da noite, Faraón de Camas, Francisco Romero, “Curro Romero”.

Talvez a passada noite o tenha levado a reviver essas tardes, que não foram poucas, de bronca, mas lá está, duravam dez minutos, e as cornadas dez dias.

Praça cheia e expectativa máxima para ver a corrida mais mediática do abono lisboeta, e desilusão à escala, também de praça cheia.

Nos touros, sete, todos diferentes de hechuras, houve de tudo, grandes, gordos, pequenos e magros, com muita cara, sem cara, transversal foi mesmo a falta de bravura, transmissão, brilho e risco, buraco negro.

1.º, 2.º, 3.º, 5.º, 6.º e sobrero, sim, seis, dos sete que saíram à arena não tinham trapío para uma praça de segunda.

De quem é a responsabilidade? Num processo de recrutamento tão complexo: vedores de toureiros, no campo, vedores da empresa, no campo e na praça, reconhecimento veterinário e finalmente, a última palavra e talvez a que menos valha, reconhecimento do Diretor de Corrida, papel ingrato…

Passemos à função, depois de breve homenagem a Curro Romero, ainda antes dos assobios, saiu um primeiro Ribeiro Telles, pequeno, pouca cara, baixel, que até lhe dificultava a visão e de comportamento repetidor, corria atrás do cavalo, acudia aos toques, mas não transmitia nem emoção, nem perigo, João Telles andou ligado, dentro das possibilidades, colocou os ferros no sítio cumprindo os cânones, e pouco mais havia a fazer. O touro era pronto e mexia-se, o que se verificou na pega, saindo de largo e sem comprometer o forcado de cara, João Rui Salgueiro, boa reunião, boa entrada do primeira ajuda, Cabo Pedro Coelho dos Reis e de todo o grupo. Pega vistosa e bem rematada pelo rabejador. Volta para ambos.

O segundo touro, primeiro Paulo Caetano, alto, badanudo, despegado do chão, sem pescoço, “hondo” e basto, foi recebido por Morante com verónicas pausadas, a última e o remate em média, as melhores.

Depois de bandarilhado muito em curto, foi passando na muleta, para a frente e para trás, sem zelo e sem humilhar, mis potável pelo píton esquerdo, acabando numa ovação.

O terceiro, outro Paulo Caetano, burraco, justo de trapío, rebrincado na investida, quer no capote, quer na muleta, Manzanares toureou perdendo-lhe passos para compor a investida, toureou passe em passe, mais curto pela esquerda, e mais nada.

Saludos.

Sem perder tempo e sem intervalo, passámos para o quarto, segundo para cavalo, de Ribeiro Telles, touro muito “em murube”, com o trapío do encaste e com o comportamento previsível, galope franco permitindo ladeares e toureio de garupa, batidas e ferros no sitio, um deles, muito bom, no sentido da querença. Boa faena de João Telles, pouco sentida pelo público.

Touro pegado à quarta tentativa por Francisco Andrade, com ajudas carregadas, depois de algum desajuste e desentendimento do forcado de cara, que não se adaptou à investida de cara alta do oponente.

Volta para João Telles.

Outro para pé, gordo, manso e desinteressado, Morante fez um toureio de pernas numa faena sem transmissão.

Ovação de solidariedade.

Ia bem a coisa…

Sexto, anovilhado, perdido de manso, e uma paciência esgotada, assobios e bronca do princípio ao fim, quanto mais assobios, mais o touro fugia de rabo no ar, José María bem que o procurava, mas nada.

Perante tamanha manifestação, a empresa, em consonância com os toureiros e aprovação do Diretor, decidiu por se tourear o sobrero, para os espetadores que decidiram ficar, não acrescentou grande coisa, boa vontade de Morante e Manzanares, e um oponente à semelhança dos outros, vazio de tudo.

Desta vez os que investem ficaram no campo, acontece, há noites assim, não há azar, as broncas duram dez minutos.

 

 

 

 

Fotografia: Nuno Almeida

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