A brilhante face oculta da Tauromaquia

Crónica

A tauromaquia sempre constituiu um tema controverso. Não é de hoje que se manifestam aqueles que são contra, mas é de hoje que o tema se tornou mais visível graças ao impacto, para o bem e para o mal, das redes sociais.

Não são recentes as manifestações, como acontecia há alguns anos em algumas praças do centro e norte do País, onde algumas pessoas não reconheciam o espetáculo tauromáquico. Mas hoje, como antigamente, o escasso número de pessoas que marcavam presença nesses protestos é o mesmo que se manifesta em frente ao Campo Pequeno, quando no interior da praça se encontram milhares de pessoas.

A diferença é que, continuando a ser em minoria os que realmente se manifestam contra as touradas, o “poder” invisível das redes sociais permite-lhes recorrer ao fenómeno viral onde os apoiantes de ideologias contrárias conseguem, ou tentam conseguir, a ideia errada da sua real dimensão.

Mas a tauromaquia é também ela um fenómeno, mas neste caso um fenómeno de paixões.

É algo que se pode tentar incutir, mas na sua essência é uma paixão muito própria de quem a conhece e se reconhece a si próprio naquela que é também uma ideologia, menos fundamentalista do que aquela própria dos que com ela não se identificam. Ideologia que vive dentro de um verdadeiro universo dentro do próprio espetáculo, da cultura e da tradição milenar que a retratam. Um universo que sobrevive com o fôlego de gerações e gerações de artistas e de aficionados e de tudo o que os rodeia, desde o campo até à praça. Que sobrevive por quem acompanha desde pequeno, ou das largas centenas de jovens toureiros e de jovens forcados, que todos os anos repovoam as fileiras deste fenómeno sem nunca terem tido um contacto anterior com a realidade taurina, mas que se enquadram nesta paixão e a tornam numa rede social, não da internet mas sim do mundo real, por todos os seus familiares e amigos, e assim se criam aficionados, e assim se mantém bem viva esta realidade.

E é de facto uma realidade, legalizada e enraizada na cultura Portuguesa, à qual os aficionados de uma forma recorrente e paciente tentam transmitir a quem não comunga das mesmas ideias, mas que contra a razoabilidade da legalidade que assiste a Tauromaquia, nem sempre as boas maneiras e o civismo ficam do lado de quem a ataca, muito pelo contrário.

Mas nem sempre as coisas funcionam deste modo. Muitas são as histórias de radicais anti-touradas que se converteram, ou melhor, que se aperceberam daquela que é a brilhante face oculta da Tauromaquia: a vida de campo de uma raça nobre, o touro bravo.

Todos os dias somos “bombardeados” com o fenómeno do politicamente correcto bem-estar animal, que na grande maioria dos casos não passa de uma pseudo concepção do que é na realidade o bem-estar, sendo que os mais fervorosos são aqueles mesmos que fecham os seus animais horas a fio nas suas casas, em condições pouco naturais ou de duvidoso bem-estar.

A tauromaquia não se resume ao espetáculo em si, epílogo de uma vida de natureza da raça brava. Espetáculo esse, que tal como disse anteriormente, é de paixões, ou se gosta ou não se gosta, ou nos identificamos com ele, ou não nos identificamos, mas quem passa a conhecer a outra face não fica claramente indiferente.

Nenhuma outra raça animal, que seja conduzida pelo Homem, tem uma vida tão próxima da interação total com a natureza. A raça brava, pela sua essência, é mantida num estado de pureza inigualável por qualquer outra relação direta do homem com os animais.

Conhecer e experienciar a vida de um touro bravo no campo é constatar que nesta raça e nestes animais personifica-se a verdadeira definição de bem-estar animal, de uma raça que claramente não se enquadra na categoria dos animais de estimação e com uma vertente de produção muito aquém de um sem número de outras raças bovinas. No seu quotidiano, a raça brava dispõe do extremo positivo de área disponível, em que os animais são deixados ao seu bel-prazer apenas vislumbrando os seus maiorais e tratadores, que dedicam também eles a sua vida de uma forma apaixonada a cuidar e proteger os animais a seu cargo.

Pela sua vertente de maneio natural e extensivo, a própria gestão de uma ganadaria torna-se numa gestão de excelência dos habitats e da paisagem, em que as enormes áreas de montados, de lezírias ou charnecas onde pastam as ganadarias bravas constituem algumas das mais importantes reservas da biosfera Portuguesa.

Na realidade, a Tauromaquia é mesmo um fenómeno de paixões, mas como em todos os temas controversos existem dois lados da mesma moeda, e se para uns a raça brava e tudo o que a envolve tem dois lados positivos, para os que contrariam o sector resta-lhes olhar para ambos os lados antes de se advogarem senhores da razão.

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