Nos recônditos de Portugal encontra-se um dos tesouros mais bem guardados pela afición Portuguesa, a praça de toiros mais antiga de Portugal, e a sua respectiva feira taurina, em Abiul. É de facto louvável, e um exemplo a seguir, todo o amor e seriedade que a junta de freguesia de Abiul, que desde já gostaríamos de parabenizar, mete na organização desta feira.
O Cartel de hoje era de expectativa máxima e contava com a presença de duas primeiras figuras do toureio a cavalo, Filipe Gonçalves e João Ribeiro Telles Jr., e a pé, Manuel Escribano, prestigiada figura do toureio do País vizinho e último toureiro a indultar em Sevilha. As pegas tiveram a cargo do Grupo de Forcados da Tertúlia Tauromáquica Terceicerense, o qual se apresentou de luto pelo falecimento dos antigos forcados Paulinho Magalhães e António Ortiz. Por eles a equipa da Tauronews gostaria de dar os seus sentimentos a todo o grupo, família e amigos dos mesmos.
Não faria também sentido iniciar esta crónica sem dar também os parabéns ao ganadero Joaquim Grave , que em conjunto com a organização trouxe um imponente curro de toiros, que em termos de apresentação está ao nível de qualquer praça de primeira a nível mundial.
O primeiro da noite tinha o peso de 620 kilos, foi lidado por Filipe Gonçalves, teve uma saída alegre e saiu interessado no cavalo. Após a cravagem inicial, Filipe Gonçalves iniciou com uma vistosa brega de colocação que levantou aplausos no tendido, contudo terminou com menos sorte na reunião, cravou os seguintes 4 ferros curtos ao piton contrário, terminando com dois violinos. O seu oponente, que embora com alguma mobilidade e vontade acabou por pedir contas, atravessando-se e adiantando-se ao cavalo, o que provocou diversos toques na montada.
À cara do astado foi o experiente João Ávila, que pegou à primeira sem grandes dificuldades, contado com uma boa ajuda por parte do grupo. Há forcados que pela sua arte e técnica fazem a pega parecer fácil, foi o que se passou nesta 1ª da tarde.
O segundo toiro da noite tinha o peso de 660 kilos e foi lidado por João Ribeiro Telles Jr.. Bem rematado, logo nos cumpridos mostrou-se algo distraído. O jovem ginete da Torrinha não teve pela frente um oponente colaborador, mostrando-se enquerençado com alguma falta de fundo. Nos curtos andou regular com o cavalo de ferro João Ribeiro Telles, cravando 4 curtos, sendo o segundo de boa nota, em que citou o toiro de praça a praça. Concluiu com 2 ferros de palmo regulares, notando-se alguma dificuldade da colocação do oponente.
Pegar um toiro por si só já não é fácil, ainda para mais um com quase 700kg de peso e que na lide a cavalo pouco colaborou… Esteve imponente o forcado Açoreano Luís Cunha no que toca a valentia e garra. Consumaram apenas à 3ª tentava já a sesgo com uma oportuna 1ª ajuda.
O terceiro da noite pesava 510 kilos e estava destinado a Manuel Escribano. De boa apresentação, Manuel recebeu o toiro num farol de rodillas, seguido por verónicas. Cravou dois pares de bandarilhas de poder a poder, o segundo citando no estribo, terminando com um ferro de violino. Antes de iniciar a faena brindou à família Carreira. O astado que inicialmente deu a entender ter alguma nobreza revelou alguma falta de fundo e de casta. Manuel iniciou a faena por derechazos, seguidos de naturales, mas pouco conseguiu fazer, pois o seu oponente tinha pouco recorrido e protestava no final dos muletazos.
O quarto da noite pesava 585 e marcou a última lide de Filipe Gonçalves nesta praça, que brindou à presidente da Junta de Freguesia de Abiul. Embora de boa apresentação, saiu algo distraído e após dois compridos regulares, Filipe com o Universo mostrou o porquê de ser figura. Ante um toiro difícil, foi buscar os seus recurso cravou três ferros de nota muito alta pelo pitón contrário, salientado o segundo em que deu total vantagem ao oponente, aguentou, cravou e rematou de forma sensacional, e o terceiro em que citou praça a praça. Talvez por entusiasmo, apeou-se, não lhe sendo permitido voltar com outro cavalo. Deu duas voltas à arena, uma delas com o cavalo Universo.
Para a cara foi Francisco Tomás que por duas vezes não se conseguiu fechar na cara do toiro, sendo que na última dá a sensação de ser pisado ao mesmo tempo que o toiro derrota o que acabaria por deixar o forcado inanimado na arena. Foi dobrado pelo companheiro q pegou à terceira com ajudas redobradas.
Como diz a tradição, ‘no hay quinto malo’, e Abiul não foi excepção. Pesava 540 kilos e saiu às mão de João Ribeiro Telles. Foi com o cavalo Equador que o jovem cavaleiro, frente a um toiro bravo e nobre, mas que pedia contas desenhou uma lide maioritariamente marcada por quiebros e ferros ao piton contrário. Meritória lide a última do ginete da Torrinha em Abiul, sempre muito ligado com o toiro e com o público.
Para a cara foi Tomás Ortiz, que pegou ao primeiro intento sem grande dificuldade numa pega tecnicamente perfeita.
Uma nota especial aos Forcados da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, que pelo facto de não termos oportunidade de os ver tantas vezes, ficamos sempre regalados pela técnica, valentia e afición que este Grupo da Ilha Terceira impõe nas suas actuações. São sem dúvida uma das bandeiras daquela ilha por esse mundo do fora.
O último da noite pesava 490 kilos, e apresentava mais hechuras de investir que o seu anterior, embora revelasse alguma falta de fundo. Manuel teve inicio similar, recebendo o toiro de farol, seguido de verónicas, finalizando por chicuelinas. Cravou 3 pares de bandarilhas corretas, salientando o terceiro, em que cravou depois de um quiebro, dando vantagem ao toiro. O matador de Gerena vinha com vontade de triunfar e para isso teve de usar os seus recursos ante um toiro que pecou pela falta de casta. Desenhou uma faena improvisada, pois o seu oponente tinha alguma falta de recorrido e protestava no final dos muletazos. Terminou a faena com desplantes que muito agradaram ao tendido.
Terminou assim mais uma corrida carregada de emoção em Abiul.