Crónica da Corrida de Beja

Quando a tradição volta a ser o que era o público sai contente, sai feliz e com vontade de voltar. Uns gostam mais, outros menos e ainda há os que desejam que nada aconteça, mas quando se juntam os melhores ingredientes na elaboração do quer que seja, então o resultado só pode ser aquele que assistimos, uma noite para mais tarde recordar.

Beja merecia uma noite assim, Beja respirou toiros, viveu toiros e fez inveja a quem não pôde estar presente, mas tudo tem o seu ponto negativo e esse revelou-se maior quando o público mostrou algum desconhecimento e mesmo falta de respeito no decorrer do espectáculo, mas adiante.

O primeiro espectáculo da feira de São Lourenço repetia o mesmo elenco no que a cavaleiros diz respeito, Rui Fernandes, Diego Ventura e Filipe Gonçalves, nas pegas em solitário o grupo da terra que neste dia tinha como nota maior a homenagem que iria ser prestada ao seu cabo re-fundador Manuel Almodôvar. A novidade acabou por ser os toiros, já que foi a estreia da ganadaria Diego Ventura em Portugal e em boa hora assim foi.

Iniciou a noite sob o mote de praça esgotada, Rui Fernandes brindando a sua lide aos amadores de beja ouvindo assim os primeiros aplausos da noite.

Perante um toiro com 575kg bem apresentado, com um comportamento sério cumpriu muito bem apesar de desligar-se facilmente do cavalo, para isso pedia-se ligação e Rui Fernandes assim o fez. Recebeu superiormente e cravou a ferragem comprida com muito valor chegando facilmente ao público, nos curtos tentou meter espectacularidade e conseguiu, mesmo que nem sempre a colocação resultasse acertada a brega foi sempre muito ligada e com intenção.

A primeira pega da noite coube a Guilherme Santos, e que pega! Mandou vir mandando na investida, o toiro mete a cara com ímpeto como se adivinhava mas após uma reunião perfeita, tem uma soberba primeira ajuda de João Graça merecedora de volta à praça na nossa opinião, o grupo ajudou e praça de pé. Pega rematada pelo homenageado da noite. Numa altura que tanto se fala em voltas, Guilherme Santos recusou num gesto de humildade uma segunda volta pedida intensamente pelo público.

Um dos momentos mais esperados da noite era Diego Ventura e não defraudou, tendo pela frente um toiro com 520kg que mostrou um comportamento semelhante ao primeiro, desligando-se facilmente do cavalo mas contribuindo para que Ventura ao seu segundo curto armasse o taco, praça rendida e fixada na qualidade da brega que este aplicava no remate de cada sorte, vindo um pouco a menos com o desenrolar da lide.

Para o segundo Ricardo Castilho, com um cite bonito meteu a praça com ele, arrancada brusca do toiro mas soube consentir para reunir da melhor forma e nunca mais sair da cara, tendo para isso contribuído a ajuda do seu grupo.

Para o terceiro da noite Filipe Gonçalves tinha pela frente não só um toiro que acusou 520kg na balança como uma fasquia altíssima, o toiro cumpriu bem mostrando-se um pouco sonso nas reuniões abria para perseguir as montadas mostrando aqui mais transmissão. Filipe por vezes não entendeu muito bem o toiro abrindo de mais o “cambio” faltando assim toiro fazendo com que a colocação da ferragem não tivesse sido perfeita, ainda assim deixou ambiente.

Para a terceira pega da noite foi escolhido Francisco Patanita, cite bonito, a consentir bem o toiro mas este a reunir com impetuosidade, não aguentando os derrotes contribuindo para o insucesso da pega a entrada tardia do primeiro ajuda. Forcado inanimado e vai para a dobra Luís Eugenio sem veleidades pegou bem com o grupo mais lesto a efectivar a sorte.

Após uma sentida homenagem durante o intervalo no centro da arena a Manuel Almodôvar sob os aplausos da Varela Crujo em pé, deu-se início à segunda parte do espectáculo. Rui Fernandes teve pela frente um toiro de 515kg, nobre, a sair de de qualquer lado, com o senão de uma cara demasiadamente fechada, contribuiu para mais uma boa lide, este a mostrar um comportamento mais “morubeño” ao qual este encaste nos habituou. Após uma ferragem comprida regular mas sempre bem rematada iniciou os curtos, o público gostou e terminou da melhor forma com os dois últimos ferros dando especial relevo à brega sempre muito ligada.

Para a pega uma cernelha por opção, a contribuir para isso a cara do astado. O público inicialmente e muito incompreensivelmente não entendeu, mas a verdade é que depois acabou por estar com a parelha de cernelheiros que conseguiu um vistoso e emocionante momento, com a praça a brindar a sorte com muito entusiasmo.

Chamados para acompanhar cavaleiro e forcado na volta: maioral, ganadero e campinos.

Para o quinto de novo em praça o furacão Ventura teve pela frente um toiro com 570kg, mansote, desligado e desinteressado da lide.

Ventura recebeu da melhor forma como é hábito, tentou em boa verdade tirar tudo o que o toiro não tinha, às vezes com mais espectacularidade ao invés de verdade, mas o público pagante é soberano, aproveitando isso mesmo, a falta de conhecimento deste relativamente às regras do regulamento tauromáquico e o ambiente que se vivia em Beja, quis alongar a sua lide não permitindo isso o Sr. Director e bem, tudo tem regras e estas são para serem respeitadas! Ventura incentivou um monumental coro de assobios o que em nada o dignifica.

Manchou um pouco a sua lide quando este esteve sempre por cima do toiro.

Para a pega Miguel Sampaio, o ambiente ainda era de revolta e nem com o forcado em praça houve respeito, continuando o coro de assobios ao director, o que é de lamentar. Para recordar que o grupo estava perante um toiro de 570kg manso.

Após algum período de espera para que os ânimos acalmassem, o forcado começa a citar bonito e vistoso, mandando na investida conseguindo assim uma boa pega com o grupo a ajudar superiormente.

Para fechar a noite o outro furacão, o do Algarve, perante um toiro com 505kg que cumpriu bem e servia para uma lide que poderia ter resultado mais redonda, pois este não aguentava uma lide muito alongada e desgastante. Filipe andou regular não rompendo como queria mas ainda assim deixou ambiente e sempre acarinhado pelo público terminou da melhor forma com o seu cavalo “bate palmas”.

Para encerrar a noite das pegas a responsabilidade recaiu em Diogo Morgado, fazendo tudo bem com o grupo a ajudar mais uma vez à altura, fechou uma grande noite para os amadores de Beja que estiveram irrepreensíveis brindando assim da melhor forma aquele que foi a razão desta formação, Manuel Almodôvar.

Dirigiu a corrida o Sr. Agostinho Borges com muita responsabilidade e conhecimento.

No final todos os intervenientes foram chamados à arena para brindar todo o público presente, aqui também com a justíssima chamada do empresário Rafael Vilhais que conseguiu duas excelentes temporadas na capital Baixo-Alentejana.

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